CENAS DE NOVEMBRO
Um
copo cheio de água é a única inspiração do dia. Palavras escorrendo goela
abaixo escuto o apito da escola no quarteirão da minha rua, aulas presenciais
no último bimestre.
Atravesso
quarteirões com minha roupa justa e o sol batendo no pedaço de rosto, nas
costas, braços, colo. De repente, respingos de chuva bêbados prenunciando o
verão.
Nesse
quase dezembro meio doído.
Algumas
dúvidas carregam suportáveis restos.
Meu
olhar segue pelas avenidas. O moço passa por mim, sem máscara. “Essa gente sem
proteção”. Sinto-me uma estranha querendo julgar as pessoas.
Envolta
nessas intrigas, fiz uma rápida filmagem artesanal das horas em que chorei e
prossegui.
No
boteco da esquina, uma confraria sagrada de homens, bebe cerveja. Passo por
perto.
A
chave do portão enfia na fechadura.
Reabro minhas intenções. Falta
pouco, muito pouco pra eu segurar o tempo. Banho frio relaxando nuca, libido
acesa descendo por todo o corpo. Afago meus cabelos brancos numa lentidão
proposital.
São
sete horas da noite. O vendedor de abacaxi interrompe minha escrita. “Duas por
oito reais, docinhas”. Compro. Eu, que nem gosto de abacaxi. Mas o moço tinha
razão.
Vou
dormir ao som imaginário de um show ao ar livre.
Desperto
sem hora marcada sem correria sem frenesi.
Quando
a fumaça do café se espalha pela cozinha, viro a privilegiada arrumando o
desjejum de tudo o que eu gosto. Uma luz natural atravessando a janela e a
porta, um vulto de mulher me assusta pelo vidro da mesa. Sou eu.
Ainda
não é tempo de abraçar um mundaréu de gente, ainda conversamos com máscaras, às
vezes sorrimos com os olhos. Há lirismo nesses dias despedaçados.
Uma
dança com leves sonetos / eu quero escrever / depois do vendaval.
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