domingo, 15 de agosto de 2021

PARA TODO MAL, A CURA >> Sandra Modesto


 










Antecipo que meu texto é um choro alegre de acalanto. Com gosto de pão de queijo quentinho e café forte.

Uma conversa em volta da mesa forrada na toalha colorida. Por aqui tudo tem vida. Cheiro, livros espalhados e petiscos pra beliscar enquanto assistimos futebol, filmes, shows.

E jogamos gargalhadas fora.

Apesar de um caos no país, a gente registra em vários ângulos, momentos da vacina contra Covid. Nossas alegrias atuais.

Estou imunizada com as duas doses da AstraZeneca.

Marido com a primeira dose.

Minha filha, também.

Amanhã, vai ser outro dia.

O dia do meu filho se vacinar!

Esperanças de recomeços. Sons de pandeiro e cantorias.

E isso é tudo!

Um texto breve porque o domingo quer assim

domingo, 8 de agosto de 2021

IMENSO INVERNO >> Sandra Modesto

 No arrepio rebuscado, onde o frio é meu inimigo oculto, essa minha existência cheia de indagações, procura docemente, a memória de tudo o que eu vivi com o meu pai.

É domingo. Quase final. Quase alguma coisa. Na tela da TV, a seleção brasileira e a seleção da França disputam handebol.

Eu busco meu pai na poltrona que eu herdei. Rasgada pelo tempo, pedindo reformas, e, nessas costuras, há silêncios, choros de calmaria, ventos pelas fretas, janelas de vitrais, fechos pedindo um tempo.

Recordo tantos momentos, pai. A gente se encontrando no cinema- Cine Ituiutaba. Você não sabia que eu estava ali. Eu menti. O filme era (Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia- com Reginaldo Faria) Impróprio para menores de 18 anos. Eu tinha 16. 

O cinema não existe mais. Que saudades daquela hora, quando as luzes se acenderam, e pá!  Encontrei meu pai. Não levei bronca.

Minha relação com o meu pai, foi de amor. Intensa. Imensa no espaço de pouco tempo. Linhas a serem preenchidas. Meu pai era meu mundo.

Ele me presenteou com uma coleção de livros, de capa dura, do Jorge Amado. Eu, a leitora adolescente lendo – Capitães da Areia, Dona Flor e seus dois maridos, Jubiabá...

Meu pai assinava o Jornal- Folha de São Paulo. Sempre gostei de informações por causa disso. Ele não sabe, mas, tomei a segunda dose da vacina contra Covid.

Já agendei: Visitar a Praça São Benedito onde tem a escultura do “Zumbi dos Palmares”- projeto do meu pai, quando foi vereador. Ir à biblioteca municipal renovar minha carteirinha, doar livros, pegar um livro e renascer.

Na minha casa, tinha vitrola, rádio de pilha, filtro de barro, festas por nada, gente por toda a parte. Sou a primeira de cinco filhas. Minha mãe era branca. 

Ando por aí, pesquisando meus ancestrais. Eu não sei o que houve na  exatidão de um Carlos Modesto jovem, adolescente e menino. Hoje, sei do racismo estrutural. Nos avessos da história contada àquela época, o racismo era velado. Mas... "Nada mudou Pai".  Nada. Tudo piorou.

A gente podia marcar uma conversa no amanhecer do Domingo, com sol batendo à porta, no abraço imaginário dessa filha que flutua, dança sem coreografia, voa enraizada de amor. E, se nada for possível, eu olho pra o teto desse quarto em prosa e verso. Pego meus cacos sentimentais, canto Cartola bem alto, enquanto o gosto do sal pelas narinas descido do lacrimejar, bem acomodados ao encontro do infinito. *referência*- Cartola- Angenor de Oliveira. Cantor e compositor brasileiro. 1908/ 1980

  Quarto turno Eu soube há pouco tempo a respeito de um campeonato de ioiô. Era uma tarde quase no final, mas o café esfriava, enquanto ...