Estava sozinha e usava jeans com chinelos.
Subindo a pé naquela rua, notou que lavavam o carro na calçada de uma casa. Esfregavam
e enxaguavam juntos; as rodas, pneus, partes do fusca.
O portão estava bem aberto. Olhou cenas reais.
Muitas pessoas em movimento. Uma mulher várias crianças um cachorro, cadeiras,
plantas, conversas, risos. E a personagem principal. Uma senhora idosa, sentada
em uma cadeira. Usava um vestido florido, os cabelos e a pele denotando a
passagem transformadora do tempo.
Gesticulava movimentos trêmulos, boca
entreaberta, mas ao derredor, pessoas mais jovens consideravam a mais velha da
casa, como parte de um todo. Escolheram não abandonar, não depositar no asilo,
preferiram assim. A personagem à cadeira não entendia nada. Não sabia mais quem
era quem, não sabia mais nem quem era ela. E daí?
A mulher que caminhava sozinha e usava jeans, era
eu.
Enquanto andava fiquei me perguntando:
Será que tenho medo da morte ou tenho medo de
morrer?
Vou morrer amanhã, domingo? Vou morrer...
Veio-me á memória musical; Gilberto Gil.
NÃO TENHO MEDO DA MORTE
“Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim.
A morte é depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo”
(Texto do
meu segundo livro: “Tudo em mim é prosa e rima”- Publicado em março de 2019.
Autografia editora).
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