sábado, 9 de janeiro de 2021

CRUZAMENTOS >> Sandra Modesto


 










Estava sozinha e usava jeans com chinelos. Subindo a pé naquela rua, notou que lavavam o carro na calçada de uma casa. Esfregavam e enxaguavam juntos; as rodas, pneus, partes do fusca.

O portão estava bem aberto. Olhou cenas reais. Muitas pessoas em movimento. Uma mulher várias crianças um cachorro, cadeiras, plantas, conversas, risos. E a personagem principal. Uma senhora idosa, sentada em uma cadeira.  Usava um vestido florido, os cabelos e a pele denotando a passagem transformadora do tempo.

Gesticulava movimentos trêmulos, boca entreaberta, mas ao derredor, pessoas mais jovens consideravam a mais velha da casa, como parte de um todo. Escolheram não abandonar, não depositar no asilo, preferiram assim. A personagem à cadeira não entendia nada. Não sabia mais quem era quem, não sabia mais nem quem era ela. E daí?

A mulher que caminhava sozinha e usava jeans, era eu.

Enquanto andava fiquei me perguntando:

Será que tenho medo da morte ou tenho medo de morrer?

Vou morrer amanhã, domingo? Vou morrer...

Veio-me á memória musical; Gilberto Gil.

NÃO TENHO MEDO DA MORTE

“Não tenho medo da morte

Mas medo de morrer, sim.

A morte é depois de mim

Mas quem vai morrer sou eu

O derradeiro ato meu

E eu terei de estar presente

Assim como um presidente

Dando posse ao sucessor

Terei que morrer vivendo”

 (Texto do meu segundo livro: “Tudo em mim é prosa e rima”- Publicado em março de 2019. Autografia editora).

 


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