Esparramava-
se de vez em quando. Nascia em galhos.Verdes. Em folhas que curavam dores, em
infusão, acalmavam peles, viravam chás. Curavam feridas e fechavam lágrimas das
mães.
Quando
secos, retorciam quebrados e olhavam cheios de medos o fogo que matava- os.
Carregava-
se de frutas. Frutos das famílias com quintais. Sem veneno, com afeto. Esparramava-se
de vez em quando. Os braços acarinhando o filho, fortalecendo a filha. Nesse
esparramar, virava jardim suspenso. Pernas pelas paredes, muros em fotografias
de cidade em cidade. De tanto espichar
píncaros da natureza, refestelava a língua para brotar por várias estações.
Espia pela janela um par de roupas em farrapos, lembra-se da vizinha transformadora
de peças velhas fazendo sorrir as moças, que a partir daquela hora, sentiam –
se bonitas, calmas como ramalhetes.
No
meio do dia, peço ajuda ao sol. E o ritmo de um farfalhar me faz árvore à busca
da delicadeza perdida.
Porque
desaprendo, ignoro pedras rolantes, toco a lentidão e sinto pela primeira vez,
sou efêmera. Espicho num chão da sala meus troncos à mesa rústica, que alguns
dizem ser um banco, eu não sento, para mim, é mesa. Pequena, muito rica na arte
com os pés de raízes.
Espio
a cama de uma mulher, ela agradece minha companhia. E me abraça esguia, parece
forte como os galhos ainda não esmagados. A mulher de repente, venha a ser eu.
Esparramo-
me de vez em quando. E de tempo em tempo, volto a florir.
A mesinha centenária ocupa a história, vasta
de personagens, transforma – se em peça principal e se ocupa de livros. Mais
uma vez, espicho meus troncos já meio doídos, mas doidos para viver um pouco
mais. Esparramo meus pés nos vãos
abertos da mesinha. É um exercício memorial. Agarro páginas, uma nuvem insiste
um anoitecer final. Também sei gargalhar. Minha risada é tão alta que transborda
os mais tímidos silêncios. Invento uma bailarina, e livre, sem música, sigo a
dança do vento lá fora.
Imagem: Pixabay
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