terça-feira, 19 de maio de 2020

RODA - GIGANTE E JOAQUIM >> Sandra Modesto



RODA-GIGANTE E JOAQUIM                   

Disseram ao Joaquim que o amor viria acompanhado de muito dinheiro...

Que o sol era grande e a vida pequena

A inocência

Durava pouco e a crueldade quem dera!

Que o abandono era certo.

E o sorriso efêmero...

Ao Joaquim disseram ainda – que não acreditasse em sonhos pra não se "ferrar"

 

Disseram também

 Neste dia – que as promessas nem sempre venceriam a verdade.

Que o doce do coco podia azedar. E que o chocolate sem calorias era então mentira.

Que o sorveteiro (enfim) podia parar de gritar.

E o telefone poderia "navegar" (...).

Disseram – que o choro existiria mais que as estrelas.

 

Que a dança seria separada dos rostos colados

O rebolado dos corpos travaria luta com os tropeços das gentes.

Disseram que o respeito humano,

O beijo escondido,

O abraço apertado;

Tudo, tudo enfim seria transformado...

 

(A experiência, a realidade, a verdade e a esperteza, os textos escritos).

 

 

O tempo passou, a roda girou. Os dias desiguais.

A voz, o som memorizando sonhos.

As suas surpresas tinham lá suas razões. Ele ficou só por que

Todos que habitaram sua consciência;

O deixaram pra que ele vivesse o quanto pudesse.

Ele meio tonto agora, ocupando um estranho espaço. Quanto espanto!

 

Mas o ritmo da roda...

Foi misturando tango, piano, guitarra, tamborins.

“A vida é bizarra a vida tem fim”

Ele pensou. Só tinha certeza:

 

O que disseram a ele ficou carregado em solilóquio.

 Eu acreditei... Lembranças não fariam parte de mim.

Restou- lhe então, pensar no agora...

Tirou o pijama, abriu o chuveiro.

 

Fez a barba aproveitando a água quente, Olhou-se no espelho, escovou os dentes... Agendou dentista, reparou os fios grisalhos... Releu trechos de Drummond. Enquanto tomava café sem açúcar, conferiu tarefas do dia pelo celular... Respondeu e-mails disfarçando a solidão

Saudades dos filhos.

Do amor do passado. Antes de sair para o trabalho imaginou umas palavras.

 

 

Imagens que nunca saíram de cena.

Abriu o Word e fez um poema...

Começou assim:

Joaquim...

 

* O texto autoral foi escrito em 2013. É uma adaptação de uma das crônicas publicada no primeiro livro da autora- em 2015.

Imagem: Pinterest.com


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