NUNCA MAIS
Minha última conversa virtual com Wania, foi há dois meses.
Wania chegou à minha
vida quando eu tinha vinte e dois anos.
Antes disso, eu tinha
nascido no verão. Minha mãe se contorceu o dia todo pra eu sair pela vagina
dela. No final da tarde, com a parteira, minha mãe deu graças a Deus. Um sol
teimoso desenhando a janela no alívio, na casa pequena, no interior de Minas
onde há luar.
Minha infância teve algumas
indelicadezas machucando meus pés, minha adolescência correu um pouco de mim e
meu diário eu escondia sempre. Uma história presa mal desejada.
Wania esperava
desvendar minhas linhas. Pelo menos. Eu, estudante de Letras, e foi assim a
vida com Wania. A gente era professora e aluna, mas os laços foram se amarrando
cada vez que ela encantava literatura brasileira e linguística. Uma tremenda
audiência naqueles anos oitenta.
Entendi então que ao me formar eu queria ser igual à Wania. Ela tinha brilho nos olhos quando falava. Poxa, empolgar daquele jeito os trinta e cinco alunos – trinta mulheres e cinco homens, só Wania.
Após terminar os horários a turma ia para o
bar. Tirávamos o cansaço no apogeu das cervejas, risadas e som com violão. Wania
gostava de cantar fado. Mas o Chico Buarque esteve ligadinho nas nossas farras,
histórias e closes marcantes vida a fora.
Na manhã estranha
indecisa entre a angústia e a peste no dia 25 de fevereiro de 2021, Eu estava
lavando um amontoado de louças. Eram quase onze horas. De repente, parei e fui
pra sala. Sentei no sofá.
Laércio chegou perto e
me mostrou uma foto no celular. Ele disse:
“Olha quem morreu”
Era o sorriso no rosto
marcado e brilho no olhar. WANIA.
Conversei com minhas
amigas do grupo de formandos de 1985. Apesar do isolamento e todos os cuidados ela
não resistiu ao vírus.
Não consegui chorar. Reli
o prefácio escrito por ela no meu segundo livro.
Anoitecia quando olhei março.
Imaginei-me uma chuva. E chorei. Como se a chuva fechasse minha dor.
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