sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O SUSPIRO DA NOITE >> Sandra Modesto

 Minha crônica publicada no site da Cult Revista.



Querido sonho, você podia maneirar um pouco aí, cara.

Recorda quando eu sonhei leve livre sem tantos pesadelos alimentando minha alma? Minha paz anda meio perdida buscando meu sonho. Era tão real pisar descalça no meu jardim. Sem medo, sem espinhos destruindo minhas histórias.

Tento escrever e não consigo. Penso em sexo e durmo cansada. O meu sonho perdeu- se enquanto o mundo lá fora me assusta.

Enquanto as pessoas esmagam meus olhos. Leio as notícias e me arrepio num suspiro puxado. Onde estará o sonho dessa gente aflita, dessa gente que destila ódio? Eu não caibo mais nesse sonho. O meu sonho é paz. É desistir de pintar meus cabelos e não ser julgada.  É viver! Sonhar com uma realidade menos cruel. Onde é que eu estava quando alguém me iludiu com um sonho ridículo de que mulher velha não pode ser linda?

Puta merda! Nesses meus sessenta anos alguém me chamou um dia desses, de velha louca. Sou. E o meu sonho foi construído bem próximo da loucura. E cresce dia após dia. Na esperança de tudo se ajeitar. Meu sonho é postar meu cartão de vacina contra Covid. Eu não serei eterna. Mas ainda pretendo sonhar. Um sonho de cada vez. Um flash do meu cotidiano em busca da justiça social. Quem sabe.

 

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