Minha crônica publicada no site da Cult Revista.
Querido sonho, você
podia maneirar um pouco aí, cara.
Recorda quando eu sonhei
leve livre sem tantos pesadelos alimentando minha alma? Minha paz anda meio
perdida buscando meu sonho. Era tão real pisar descalça no meu jardim. Sem
medo, sem espinhos destruindo minhas histórias.
Tento escrever e não
consigo. Penso em sexo e durmo cansada. O meu sonho perdeu- se enquanto o mundo
lá fora me assusta.
Enquanto as pessoas
esmagam meus olhos. Leio as notícias e me arrepio num suspiro puxado. Onde
estará o sonho dessa gente aflita, dessa gente que destila ódio? Eu não caibo
mais nesse sonho. O meu sonho é paz. É desistir de pintar meus cabelos e não
ser julgada. É viver! Sonhar com uma
realidade menos cruel. Onde é que eu estava quando alguém me iludiu com um
sonho ridículo de que mulher velha não pode ser linda?
Puta merda! Nesses meus
sessenta anos alguém me chamou um dia desses, de velha louca. Sou. E o meu
sonho foi construído bem próximo da loucura. E cresce dia após dia. Na
esperança de tudo se ajeitar. Meu sonho é postar meu cartão de vacina contra
Covid. Eu não serei eterna. Mas ainda pretendo sonhar. Um sonho de cada vez. Um
flash do meu cotidiano em busca da justiça social. Quem sabe.