domingo, 22 de novembro de 2020

Mãe, eu não acredito >> Sandra Modesto

É uma conversa com o Gabriel.

_ Eu sou preta, né?

_ Você? Não, por favor, não faça isso comigo. Coloca seu braço perto do meu. Qual a cor dele?

Eu olhei, olhei, observei a não semelhança e o bate – papo rolou.

_ Mas meu pai, meus avós eram pretos.

“Frase típica de quem não tinha o que dizer”. Seria melhor eu ter ficado calada. Caramba!

_ Mãe, eu sou preto. Você é uma miscigenada, apenas. Seu tom de pele é muito claro, seus cabelos não são afros, o que significa que se você continuar com essa ideia, será estupidez.

“Mas quando eu tomo muito sol”...

_ Sei. Você fica bronzeada. Preta não, mãe. Preta nasce preta. Sofre racismo, luta para um lugar ao sol. No mundo dos brancos privilegiados. Para com isso, mãe. Eu te admiro tanto.

Meu filho foi lanchar na cozinha. Eu também. Olhei nos olhos dele. Pedi desculpas pela minha insensatez. Só não contei que sabia que eu não era preta. Mas sou, serei a mãe antirracista para sempre.

“A conversa já faz muito tempo, mas é uma crônica real, nesse Brasil PANDEMÔNIO”.

Sandra Modesto

#petiscosdedomingo #cronica #cronicadodia

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