domingo, 26 de janeiro de 2020

A MENINA E A MÃE DA MENINA >>> Sandra Modesto


A menina e a mãe da menina
Vejo minha filha quentinha dentro de mim
Sinto minha filha quietinha dentro de mim
Vejo uma barriga cansada carregando minha filha
Sinto uma hora chegando num dia no meio da tarde
Num calor de janeiro
É hora de uma barriga explodir
Não vejo mais uma bola redonda
Em redondilha maior
O choro da minha filha
Cruzando os olhos em mim
Cravando meus tenores
Temores da minha primeira vez
“Eu acordei mãe”
E foram tantos os caminhos
Descobertas
Culpas
Lutas
Conquisto o mundo com minha filha gritando dentro de mim
Percebi que fui mãe assim
Meus peitos num leite jorrado
Leite seco
No preparo das mamadeiras
No meu choro escondido
Sinto minha filha correndo pra mim
Olho o mundo com olhos arregalados
Intuição misturada
Cortaram minha barriga e um cordão
Decoro o aflito berço em suaves prestações
Carrego minha filha em meus braços
Não programei o nascer da minha filha no mesmo dia que o meu
Agora e sempre e hoje
Minha filha é o amor ecoado
Nesse verão de um acaso
Nesse amor bagunçado
Eu e minha filha
Minha filha e eu
37 anos
59 anos
Do nosso 26.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

mensagem sobre a postagem com palavras simples, respeitosas e objetivas.

Biblioteca virtual do Elicer Minas

https://elicer.com.br/_escritores/sonhos-e-perdas-e-outros-contos/