domingo, 25 de julho de 2021

BLOCO DE NOTAS >> Sandra Modesto

 Ao acordar, depois da noite vadia, que invadiu meu sono, Senti um cheiro preso de um passado recente.

Era um perfume agridoce misturado às coisas do meu entrelaçar nesses dezesseis meses na vida nova. Imprevista.

Correndo dores. Choros sem despedidas. Álbum e esconderijo. Tenho lágrimas diárias diante de um país com feminicídios, gente passando fome, mulheres e crianças negras morrendo todos os dias.

É a coisa não tá preta. Porque se a coisa estivesse preta, a coisa estaria boa.
Pego um caderno. Minha memória dá um branco. Momentaneamente.

Nesse espaço entre manhãs e noites, o país pelo avesso. Entendo que, a Arte resiste. E nos Salva.

De maio a julho, na imensidão das leituras: O avesso da pele (Jeferson Tenório). Ao pó (Morgana Kretzmann). Os tais caquinhos (Natércia Pontes). Suíte Tóquio (Giovana Madalosso).  Copo vazio (Natalia Timerman) Risque esta palavra (Ana Maria Marques). Um buraco com meu nome (Jarid Arraes), Doramar ou a Odisseia (Itamar Vieira Júnior), Pequena coreografia do adeus (Aline Bei). Água de barrela (Eliane Alves Cruz). Apague a luz se for chorar (Fabiane Guimarães) A palavra que resta (Stenio Gardel), Homens pretos (não) choram (Stefano Volp).

 Assisti duas séries que me fizeram refletir: MANHÃS DE SETEMBRO- com a Liniker. COLÔNIA - Baseada no livro de Daniela Arbex: Holocausto brasileiro.

Recolho meus instantes e desligo o celular. Nessa madrugada de quinta- feira meio densa meio aflita.

* Esta crônica foi publicada hoje, no site cronicadodia.combr

 

 

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