Encerrando o mês com uma crônica minha. Publicada no site da revista Cult.
Leia aqui:
Blog pessoal. Conteúdo literário com textos da autora e escritores de sua preferência. Dicas de livros, músicas, vídeos, projetos culturais. Resumindo: "Aqui tudo é arte"
Encerrando o mês com uma crônica minha. Publicada no site da revista Cult.
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Crônica atrasada, mas muito significativa.
Tenham todos uma feliz semana.
#petiscosdedomingo
Relaxa mãe
Eu estava muito
ansiosa. Texto pra escrever tudo ia normal, não fosse alguém dizer:
_ Mãe está tudo bem.
Para com esse negócio de ser agoniada, às vezes escrever textos antes da hora.
Você já trabalhou
demais. Publicou dois livros. Pra que
mais, mãe? Você foi professora por tantos anos. Eu cresci vendo você
trabalhando três turnos. Sem descansar aos finais de semana, corrigindo provas,
preocupada com filhos, casa, casamento, família. E hoje você quer trabalhar
mais? Você tem quase sessenta anos, merece curtir a vida. Ficar de boa. Relaxa
mãe. Eu quero você assim: Dando suas risadas, gargalhando do nada, cantando, se
divertindo. E escrevendo quando tiver vontade, não como obrigação. Porque a
vida é isso. A gente faz o que puder se quiser, sem neuras.
Sabe mãe, estou falando
isso porque você tem merece viver cada momento.
Cada dia conta. Cada
dia.
Olhei para aquele filho
que há pouco tempo, era um menino travesso. A travessura foi transformada em
lição.
Aprendi com meu filho.
Naquele momento passei
a entender. Eu era importante. Porque cada momento é maior que tudo. Deitei-me
no sofá. Fechei os olhos e observei; o abrir e fechar dos meus olhos eram o
reflexo da menina que morava dentro de mim.
Relaxa filho. Eu te
entendi.
Atravessar madrugadas e
tentar ser feliz.
Nos almoços de todos os dias
No prato de muitas famílias
O arroz acaba.
Aos domingos seguidos de uns dias pra cá
Arroz e feijão descombinados
Na feira do mercado não cabem o arroz, o feijão, o tomate colorido.
O preço sobe. A fome aumenta. As famílias cansadas e tristes
Não há mais o que fazer.
Nem arroz a gente não tem hoje?
_ Não, meus filhos.
O preço do arroz não cabe no poema
Não cabe no poema
O preço do arroz.
"Nasci nos anos sessenta. Ituiutaba era considerada a "Capital do Arroz"
Mas tudo acaba.
O arroz no prato também.
Restou uma saudade na tela da TV
Uma crônica minha escrita no mês de agosto.
JÁ
FAZ UM TEMPINHO
Mas está louco. Triste.
Eu não consigo acreditar nesses cinco meses arrastados. Numa casa enorme. À
espera de boas notícias pra eu me inteirar melhor.
Respirar esperanças, daquelas
que me levem ao um país diferente. Com um líder de verdade. Que nada, querida,
você, eu, tu, elas e eles estão no quinto mês de escassez. Escassez de vidas,
pessoas espionando no lugar de aquietar – se. Talvez um pouco de quietude seja
o diferencial.
Hoje não tem praia. Não tem aula. Não tem galera nos botecos. Não
tem geral gritando no show de pagode, de rock, de rap, de Chico, de Caetano, de
Teresa. Ora bolas, eu até imagino verdades em partes disso tudo. Mas... O povo é
dividido: Uma parte tá em casa, outra tá no mar curtindo o sol, escolas
reabrindo, uma porrada de gente sem máscaras caminhando pra lá e pra cá.
E eu? Convivendo dia a
dia com esse novo mundo, velho mundo, vasto mundo, já nem sei mais o
significado desse viver.
Minhas rotinas tomam
porres de café, de tantas coisas. A vacina não chega o remédio certo não chega.
Por favor, cloroquina não!
Não cura COVID, não
cura a estupidez do presidente.
Quarentena, companheira
de todas as horas, chega aqui, me abraça. A gente vai se entendendo. Apesar de
tudo. Com pesares pelas cento e cinco mil mortes. Por enquanto. Não sabemos até
quando haverá tanta dor.
Eu choro calada
abraçada comigo.
Já faz um tempinho.
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