quarta-feira, 23 de setembro de 2020

domingo, 13 de setembro de 2020

RELAXA MÃE >>> Sandra Modesto

 Crônica atrasada, mas muito significativa.

Tenham todos uma feliz semana.

#petiscosdedomingo


 

Relaxa mãe

Eu estava muito ansiosa. Texto pra escrever tudo ia normal, não fosse alguém dizer:

_ Mãe está tudo bem. Para com esse negócio de ser agoniada, às vezes escrever textos antes da hora.

Você já trabalhou demais. Publicou dois livros.  Pra que mais, mãe? Você foi professora por tantos anos. Eu cresci vendo você trabalhando três turnos. Sem descansar aos finais de semana, corrigindo provas, preocupada com filhos, casa, casamento, família. E hoje você quer trabalhar mais? Você tem quase sessenta anos, merece curtir a vida. Ficar de boa. Relaxa mãe. Eu quero você assim: Dando suas risadas, gargalhando do nada, cantando, se divertindo. E escrevendo quando tiver vontade, não como obrigação. Porque a vida é isso. A gente faz o que puder se quiser, sem neuras.

Sabe mãe, estou falando isso porque você tem merece viver cada momento.

Cada dia conta. Cada dia.

Olhei para aquele filho que há pouco tempo, era um menino travesso. A travessura foi transformada em lição.

Aprendi com meu filho.

Naquele momento passei a entender. Eu era importante. Porque cada momento é maior que tudo. Deitei-me no sofá. Fechei os olhos e observei; o abrir e fechar dos meus olhos eram o reflexo da menina que morava dentro de mim.

Relaxa filho. Eu te entendi.

Atravessar madrugadas e tentar ser feliz.

A capital do arroz acabado >> Sandra Modesto


 O arroz acaba.

Nos almoços de todos os dias

No prato de muitas famílias

O arroz acaba.

Aos domingos seguidos de uns dias pra cá

Arroz e feijão descombinados

Na feira do mercado não cabem o arroz, o feijão, o tomate colorido.

O preço sobe. A fome aumenta. As famílias cansadas e tristes

Não há mais o que fazer.

Nem arroz a gente não tem hoje?

_ Não, meus filhos.

O preço do arroz não cabe no poema

Não cabe no poema

O preço do arroz.

"Nasci nos anos sessenta. Ituiutaba era considerada a "Capital do Arroz"

Mas tudo acaba.

O arroz no prato também.

Restou uma saudade na tela da TV

http://g1.globo.com/minas-gerais/videos/t/todos-os-videos/v/cultivo-de-arroz-segue-como-tradicao-em-ituiutaba/6730806/

sábado, 5 de setembro de 2020

JÁ FAZ UM TEMPINHO

 Uma crônica minha escrita no mês de agosto.

JÁ FAZ UM TEMPINHO

Mas está louco. Triste. Eu não consigo acreditar nesses cinco meses arrastados. Numa casa enorme. À espera de boas notícias pra eu me inteirar melhor.

Respirar esperanças, daquelas que me levem ao um país diferente. Com um líder de verdade. Que nada, querida, você, eu, tu, elas e eles estão no quinto mês de escassez. Escassez de vidas, pessoas espionando no lugar de aquietar – se. Talvez um pouco de quietude seja o diferencial.

Hoje não tem praia.  Não tem aula. Não tem galera nos botecos. Não tem geral gritando no show de pagode, de rock, de rap, de Chico, de Caetano, de Teresa. Ora bolas, eu até imagino verdades em partes disso tudo. Mas... O povo é dividido: Uma parte tá em casa, outra tá no mar curtindo o sol, escolas reabrindo, uma porrada de gente sem máscaras caminhando pra lá e pra cá.

E eu? Convivendo dia a dia com esse novo mundo, velho mundo, vasto mundo, já nem sei mais o significado desse viver.

Minhas rotinas tomam porres de café, de tantas coisas. A vacina não chega o remédio certo não chega. Por favor, cloroquina não!

Não cura COVID, não cura a estupidez do presidente.

Quarentena, companheira de todas as horas, chega aqui, me abraça. A gente vai se entendendo. Apesar de tudo. Com pesares pelas cento e cinco mil mortes. Por enquanto. Não sabemos até quando haverá tanta dor.

Eu choro calada abraçada comigo.

Já faz um tempinho.

Sandra Modesto

Biblioteca virtual do Elicer Minas

https://elicer.com.br/_escritores/sonhos-e-perdas-e-outros-contos/