Triturador de sonhos
Começaram a namorar durante o curso de
teatro amador.
Uma história de amor forte. Ávida para
o real. Juntaram as mochilas. Foram morar juntos.
Noites e dias de amor, orgasmos,
delírios e suspiros.
A pandemia chegou. Assistiam
aos possíveis vídeos online. A ansiedade deu sinal. Um belo dia de
domingo, exaustos de Brasil, alguma coisa tinha que acontecer.
_ Olha! Isso não está certo.
O presidente com COVID, e o povo desejando que ele morra!
_ O quê? Você votou nesse cara?
_ Votei.
_ E não me contou?
_ Não. O voto é secreto.
_ Ah, tem razão. Não votei nele.
_ Não? E me contou agora?
_ Sim. O voto é secreto. Eu votei no
professor. Fiz campanha. Sabe naquela manhã de setembro de
2018? Enquanto você virava pra o canto da cama, eu fui às ruas virar
votos. O dia em que mulheres de todo o Brasil, se juntaram ao movimento “ELE
NÃO”.
No segundo turno, fui ao local de
votação com um livro. Ah, você não reparou. Escolhi o livro de uma escritora
preta, mineira, talentosa. Você sabe pouco de mim. Gosto de músicas, mas...
Deixa pra lá.
Ele:
_ Não interessa. Você votou
errado. Perdeu o voto.
_ Não, engano seu. Trocar um professor
por um fascista? Eleito sem ter ido aos debates... E atualmente,
mata o povo todos os dias. Esmaga os sonhos da gente.
Tudo certo. O casal parou. Encenação
perfeita. O projeto- piloto estava ali. O roteiro pronto.
O título: “TRITURADOR DE SONHOS”. A
peça teatral usará interferências artísticas:
“Tenho sangrado demais/ tenho chorado
pra cachorro/ ano passado eu morri/ mas esse ano eu não morro” (Sujeito de sorte/
música de Belchior)
“a gente combinamos de não morrer”
(Conceição Evaristo/ no livro- OLHOS D’ÁGUA - página 99).
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