João
e Maria
Maria
acorda e encara o espelho desses comprados no camelô.
Sobre
a mesa apertada nos dois cômodos da casa, alguns pães amanhecidos.
Prepara o café. Engole o caos da luta.
João
mora do outro lado da rua em meio à desigualdade social esquecida.
Maria
e João possuem uma força bruta.
Vão ao mercado do outro lado da cidade. Com
máscaras pretas rezam para não serem confundidos.
No
Brasil, preto tem cara de bandido. João e Maria sempre deram um jeito no verbo
suportar...
Suportar
o sol, a chuva, atropelos, dissabores. Os boletos chegando. O trabalho informal
pedindo socorro.
Maria e João em seus barracos.
O pai de João está tossindo. Os dois trocam
olhares preocupados.
No barraco de Maria, o filho pequeno pede colo,
o do meio desenha no papel, a menina de onze anos fala baixinho:
_ Mãe, se eu tivesse um computador com
internet...
Estudar pelo celular... Tá difícil, mãe.
_ É filha, por enquanto o computador não dá pra
comprar.
_ Vamos comer pão com ovos e tomates? Pra
espantar as tristezas. Quer?
_ Quero!
Antes de dormir, olham o desenho no papel. Seis
mãos entrelaçadas
Mãe e filhos se alimentam de sonhos pequenos.
E assim termina o dia. Começa o dia.
Nem
preciso contar mais.
Tudo está por um triz.
Ainda ontem morreu um menino negro.
Link:
http://www.cronicadodia.com.br/2020/06/joao-e-maria-sandra-modesto.html
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