quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Crônica, cachorro, livre.



Olá, pessoal! Meu último texto de agosto. Lembrando que, o mês de agosto tem várias versões sobre: “O mês de cachorro louco". Uma delas é pelo simples fato de que as cachorras estão no cio.
Uma louca escreveu:
Quando Chico Cresceu...
Meu cachorro, Chico Buarque Modesto, chegou aqui em casa, tão amorzinho!
Tão pequenino!
Mas 
Duas semanas depois, ele conseguiu subir na poltrona alta.
- Gabriel foi você quem colocou o Chico aí?
- Não, mãe. Ele subiu sozinho.
O Chico na poltrona olhando o Gabriel trabalhar no computador. Observei a cena.
Em seguida, o Chico deitava no tapete da sala, pegava meus livros e eu tive que ser bem esperta.
- Meus livros não, Chico Buarque!
Ele não ficava quieto de jeito algum.
Cresceu muito. Está com treze meses.
Vive no quintal. Lá, ele já destruiu roupas no varal, livros velhos que ficavam na casa bem espaçosa onde ele dorme e se alimenta, já quebrou uma antena. Se eu desço por lá, ele acaba comigo. (Risos)
O único que ele aceita é o meu marido.
Um dia desses, eu pensei, no auge da minha carência, e, verbalizei:
- É o seguinte; eu quero um cachorro pra ficar perto de mim. Entrar na sala, pular no sofá, eu quero abraços, carinho...
O Chico não gosta nem de passear. No jardim ele fica. 
Pensei, imaginei viver sem o CHICO.
É. Definitivamente, não. Ele dá sonoridade, a grade que separa a morada dele do meu espaço, é minha comunicação diária de liberdade.
Agora, ele cismou em aparecer nas minhas selfies.
Rasgou em pedaços a rede que eu tinha.
Está terminando de rasgar uma parte do toldo da janela lateral da sala.
Entendi porque não posso ficar sem meu Chico.
O Chico rasgou minha solidão.
O Chico destruiu minha pequenez
Comprei uma rede nova igual a que ele destruiu. Rede é tecida.
Chico tece e aquece a rede do meu coração.
Cachorro tem sentimentos.
Feito gente.
Chico é o meu melhor agente.
Sandra Modesto.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

UM CASO A GOSTO DO FREGUÊS >> Sandra Modesto


N o começo de junho sabe aqueles dias de temperatura maluca?
Pela manhã, tempo frio, à tarde um sol quente e durante a noite só a gosto de Deus?
Eu fui ao centro da cidade atualizar minha agenda:
Dentista, ótica, e, tinha vinte reais na carteira.
Peço um táxi pra ganhar tempo? Vou de ônibus pra economizar?
A segunda opção me agradou mais.
Muita gente aguardando o transporte público, conversa vai, conversa vem.
- Sabe se o Nadime Derze já passou?
- Passou há uns minutinhos. Respondi.
 Era um garoto. Saquei o desânimo no olhar dele ao ouvir minha resposta.
- O próximo demora muito? (perguntei)
- Uns quarenta minutos.
Chegou uma estudante. Vi que era universitária. Usava moletons e uma mochila.
- Você viu se o Ituiutaba clube já passou?
- Não. Estou esperando por ele. Daqui a pouco ele vem.
Observei que todos nós usávamos celulares. Conectados!
Chega uma mulher quase gritando em alto e bom tom:
- Que isso eu hein? Eu queria um picolé, mas, o "picolezeiro"  está muito fedido. Que nojo! Não compro de jeito nenhum! Parece que nunca usou desodorante na vida!
- Desculpa, minha senhora, eu nem a conheço. Só acho que falar isso é muito estranho. A senhora está atrapalhando as vendas de um senhor e o mais grave: Sendo preconceituosa e desumana. A senhora sabe se ele tem dinheiro pra comprar desodorante? Conhece a realidade dele?
- Que isso minha filha, meu avô morreu com oitenta e cinco anos e sempre viveu cheirosinho.
- Cada caso é um caso. Não junte a história de quem a senhora conviveu a vida toda com quem a senhora acabou de ver. Por falar nisso, eu vou até lá confirmar o cheiro dele.
Fui. Aproximei-me do senhor. Bem próxima cumprimentei. Perguntei o nome, a idade, o bairro em que morava, se era aposentado.
- Sou aposentado minha fia. Mas eu vendo os “picolé” pra ajudar a pagar as continha, comprar uma carninha. É isso aqui que ajuda.
O senhor vendedor de picolés, não estava cheirando nada. A não ser o perfume de alguém que segue a vida sem ter tido oportunidades. Aos sessenta e oito anos ele aparenta bem mais. A pele bem marcada com rugas e manchas de sol. Se ele não tem dinheiro pra comprar desodorantes é sarcástico pensar que ele tenha dinheiro ou gastará seu mísero rendimento com protetor solar.
Disse tchau desejei boas vendas e que o inverno fica mais complicado, mas, que a temperatura em Ituiutaba ia esquentar logo, logo.
Voltei ao ponto de ônibus e olhei pra quem tinha desdenhado do trabalhador que não usava desodorante:
- Engraçado, eu não senti mau cheiro. Acho que meu nariz está entupido.
Sandra Modesto

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