Olá, pessoal, no post de hj, alguns textos escritos por mim.
Penso. Digito. Publico.
Vamos de crônica!
Só três. Pra não perder o freguês.
Na sequência:
Penso. Digito. Publico.
Vamos de crônica!
Só três. Pra não perder o freguês.
Na sequência:
UNS ASSUNTINHOS...
Uma vez, lá pelos meados dos anos sessenta, comecinho
dos setenta, não tenho muita certeza da data, enfim:
- "Você vai ficar após a aula pra aprender a
fazer a bandeira do jeito certo.".
Eu era muito tímida, ainda não aflorava em mim, meu
lado contestador, brigão. (Que raiva!)
Cara, eu fazia o primeiro ano adiantado (Pois é...
Havia o primeiro aninho, e esse aí que eu citei acima. Para quem não vencesse
as etapas do primeiro. Kkkkkkkkkkkk).
A menininha misturinha de preto no branco, tipo boneca
dourada, que nunca havia ficado de castigo, FICOU!
O sino da escola tocou, meus colegas foram pra casa,
eu fiquei sozinha com a professora bruxa.
- Desenha esse losango , anda, desenha depressa!
Eu não sabia desenhar figuras geométricas, detestava
cantar eu te amo meu Brasil e fazer fila pra entrar na sala de aula, estava de
castigo. Minha mãe foi me buscar. Estava preocupada com a minha demora. Aliás,
ela sempre buscava as filhas. Éramos cinco. Eu fui a primeira a ir pra escola e
era a preferida dela. ( Mais risos)
Até que esse losango saiu, eu já estava bem abalada
com tudo. A professora tinha cara de "golpista", nunca sorria para os
alunos, e eu sempre vou detestá-la, até morrer. No semestre seguinte, ela mudou
da cidade e a nova professora, pelo menos sorria, e não era fascinada por esse
tal de losango.
Outro episódio, que me deixou muito tipo,
"OI?".
É que na mesma escola, eu era a cantora dos
"momentos culturais", a que buscava o palestrante feito
cerimonialista e o conduzia ao recinto (Que isso! Pois é)...
Tinha uma música que a gente cantava na época da
semana santa, ah, algo assim, e eu, a escolhida, estava lá, no palco. Sei que
era uma música do Roberto Carlos, e que tinha um refrão com a palavra Jesus.
Depois de cantar inúmeras vezes nessas datas, uma
professora chegou pra mim e disse:
-Não é jesuis, é Jesus, Você está pronunciando errado.
Juro que tive vontade de gritar, espernear, mandar ela tomar bem naquele lugar,
mas, eu era a menininha bonitinha, comportada, calei-me.
Ah, teve também a cartilha. Gente! Cartilha era uma
coisa horrorosa, com umas bobeirinhas que ensinava a gente ler. Desde o
alfabeto, passando por palavras, e uns textículos. Vou falar alguns:
Vovó viu a uva. A uva é da vovó. O ovo... ( Me recuso
a lembrar do resto)
Acontece que eu demorei aprender a ler, só aprendi
depois que a cartilha estava bem gasta, carcomida, rasgada a coitada. (Quem
mandou?)
Sobre a cartilha:
Recrio: - O vovô viu o Viagra, o Viagra é do vovô. A
vulva da vovó é vida!"
Hoje na minha consulta ao dentista, antes de começar o
procedimento lasquei a pergunta:
- Não era pra tomar aquela remediera antes não, né? Eu
não tomei. -"Remediera" igual minha mãe falava.
ELE:
- Minha mãe também falava assim.
Rimos feito bobo e fiquei de boas na cadeira. Foi tudo
leve e sem dores.
Sandra Modesto- Professora que contestava, amava os
alunos, nunca soube do losango, lê Cora Coralina e Carlos Drummond, canta Chico
Buarque, Elis Regina, Ana Carolina, Seu Jorge, dança funk, pagode e românticos.
Autora publicada.
INFORMAÇÔS ADICIONAIS: Não tem.
Sandra Modesto
QUANDO CHICO CHEGOU
Foi uma surpresa. O Chico chegou sem avisar pra autora
que vos fala.
Pegaram o cão sem dono e mandaram com um bilhete.
Ele já veio com registro: Chico Buarque Modesto.
Aí, não foi amor à primeira vista. Dela, não.
Acontece que o mistura de raças, era uma graça.
Bagunças à revelia. E ela foi encarando aos poucos, a loucura e magia que é ter
um "Chico" em casa.
Não era o do vinil, não era o do DVD, do documentário,
das músicas e letras do Chico que ela amava desde tenra idade.
Oh, e agora, Chico?
No início, depressão emocional. No meio aceitação
devagar, no final da semana, já era Chico pra cá, Chico pra lá...
Chico! Vê se me erra, me esquece um pouco, tormento.
Lamento, mas a moça estava mentindo a si mesma.
O Chico chegou ao meio de uma turbulência política,
ela tinha suas convicções, lutava pelo direito à democracia. Chegou ao ponto de
ter a certeza que não queria que todos rezassem a mesma cartilha partidária. Pasme
aceitar o golpe, não!
Além do mais, a dona da história estava lutando em
prol da publicação de um livro. O primeiro. Ela amou e sempre amará a ideia, o
projeto literário que mergulhou de cabeça.
E de repente, não mais que de repente, chega o Chico.
Ficamos todos perdidos. Escola sem partido? Corruptos
julgando e afastando e desrespeitando o voto de milhões de brasileiros!
Foi nessa privada imunda que ela entendeu. Pior, bem
pior do que a presença cotidiana de Chico, era a desgraça e mísera conjuntura
política do país.
Então, vem Chico. Perto de tudo isso, você é o melhor
presente. Notícia que a gente se acostuma a decifrar, entender, acarinhar.
Perto dessa realidade execrada e escrachada por um
golpe tão estúpido;
Chico, você é o meu Buarque. O meu Modesto. O meu
misturinha de sujeiras poéticas e latidos divertidos.
Quando Chico chegou...
Chegou para ficar.
Chico, vamos nessa!
Sandra
Modesto
PAI! ESTRAGUEI SUA BANDEIRA.
Podia
ter ficado calado, contado e mostrado só pra mãe ou revelar a travessura
depois, em outro momento, mas, não, chegou da manifestação, deu de cara com o
pai lanchando, todo tranquilo batendo papos com a mãe, e foi logo dizendo:
- Pai
estraguei sua bandeira.
- Ah,
não, Gustavo, você não fez isso não.
- Fiz
pai, mas, foi sem querer, eu colei uma frase com aquela cola forte, pensei que
não fosse "tão forte"!
- É
depois sai. Com jeitinho pra não rasgar o tecido, calma, senta aí filho, conta:
- Como
foi a manifestação?
- A
minha bandeira oficial, eu nem acredito, não tenta acobertar o erro dele não,
Júlia, ele agiu errado!
- É só
mudou a frase, depois se não sair a gente compra outra bandeira, pra tudo se dá
um jeito.
- Vocês
acham tudo fácil, fácil, dinheiro, então!
- Dá pra
brigar depois e ouvir o que o Gustavo tem pra contar sobre a primeira
manifestação cidadã, política, de brasileiro engajado dele, por favor?
Luis se
rendeu. Também, né? Dois contra um...
- Tá
bom, filho, conta, como é que foi lá? Muita gente?
- Nossa!
Muita gente, pai. Organização boa, as reivindicações bem elaboradas, pautas
escritas e entregues para o representante do prefeito, pai, ele mandou
representante, nem teve coragem de dialogar com a gente pai, é, mas, ele vai
ter que levar a sério os nossos pedidos pai, da UFU, da UEMG, da saúde, o povo
tá muito insatisfeito, o atendimento, e os pagamentos dos contratados que não
são pagos tem três meses, muita coisa errada, precisando melhorar, pai.
Luis e
Júlia se olharam com alegria e orgulho, uma mistura de sentimentos.
Então
aquele bebezinho de ontem, já estava virando gente, gente que luta que busca
seus direitos e que não abandona o barco.
-
"Meu garotão"! Pensou Luis.
- Júlia
embargou uma voz silenciosa:
- O
filho que ensinei a ler, agora, aprendendo lições de Democracia.
Mais
tarde, Gustavo entrou no quarto dos pais:
- Mãe,
eu achei na internet um jeito de tirar cola de tecido, consegui tirar a frase
da bandeira, mas rasgou um pouquinho o tecido.
Sorrindo
por dentro a mãe disse:
-Ah, tá
bom, nem vai dar para notar, filho. Esquece a bandeira, o que você fez hoje,
foi muito mais brasileiro.
(Baseada
em fatos reais e dedicada à turma que participou da manifestação pacífica em
Ituiutaba, em 2014)
Sandra Modesto (Acenda a luz- livro com coletânea de
crônicas, contos e poemas.)
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