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Sandra Modesto
Blog pessoal. Conteúdo literário com textos da autora e escritores de sua preferência. Dicas de livros, músicas, vídeos, projetos culturais. Resumindo: "Aqui tudo é arte"
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
domingo, 16 de junho de 2024
Bento
BENTO
As
noites de Ana eram sempre iguais desde criança quando ainda sonhava em colocar
perna na boneca quebrada. O pai entrava no quarto, deitava na cama e beijava
Ana com a língua. Apalpava os seios, feito o cara chamado tarado. Pelo menos,
era esse o nome que as meninas da quarta série primária da escola da vila
ouviam pelos corredores na rispidez do recreio: “Olha, o tarado pega na bundinha da gente, e põe o negócio duro pra
fora, cuidado.”.
Aos
15 anos, a menina desejou comer manga verde com sal.
A
avó lembrou-se do genro pelas madrugadas, o diabo rondava no coração daquele
monstro. Era lá, onde o inferno morava. Ana agora olhava para o berço do
menino. Odiava a barriga esticando mês a mês.
Não
era esse o sonho. Se um dia tivesse filho o nome seria Bento.
As
manhãs entremeadas por longos silêncios.
Um
verão covarde. Assim como a existência desse mundo.
A
avó estendia roupas num quintal sujo.
Pisando
no meio adeus, a menina pegou o revólver na gaveta do pai.
O
berço, os peitos cheios de leite. Uma santa quebrada. Dois tiros.
No
dia seguinte, a notícia no primeiro bloco do programa Chumbo Grosso.
–
Tudo bem, filha?
–
Tudo.
A
mãe desnorteada cobriu o corpo da filha.
E
lavou o corpo com o sangue.
domingo, 21 de janeiro de 2024
Quarto turno
Eu soube há
pouco tempo a respeito de um campeonato de ioiô.
Era uma tarde
quase no final, mas o café esfriava, enquanto eu era apenas uma senhora de
pernas pro ar escolhendo um filme para assistir.
De repente uma
num voz de um jovem com mais de 1,90 cm:
“Mãe, você sabe
onde vende ioiô”? Eu preciso muito.
_ Espera aí. Na
lojinha da esquina tem. Chegando à lojinha, que vende tudo, o diálogo:
Moça tem ioiô?
Tem. É bom, né?
Criança gosta. (risos). Se ela soubesse a idade de quem queria...
Na volta pra
casa, já fui avisando.
Eu achei. Vai
comprar.
Ele chegou e, parecia
uma criança com o brinquedo enrolado nos dedos fazendo mil malabarismos. Observei
a cena.
_ Mãe, eu
participava de campeonatos de ioiô quando eu era criança. Venci muitos. Não
lembra? A gente morava no bairro Junqueira, eu brincava na rua, um cara
organizava os campeonatos, a molecada se divertia muito.
_ Não me lembro.
Ah, mãe, é
porque, na época, você trabalhava quatro turnos.
Ele continuou
brincando. Eu olhei para o tempo. Arrebatada com a descoberta do quarto turno.
Sim, eu trabalhava o primeiro turno, o segundo turno, o terceiro turno. O
quarto, bem, esse era o turno quando eu chegava à minha casa, organizava as
tarefas domésticas, verificava tarefas escolares.
Cenários desse trabalho
invisível, não remunerado, que a gente faz.
Por isso,
atualmente, eu tenho a preguiça como uma grande companheira.
Daqui a 5 dias
meus 63 anos vão chegar. Vou abrir a porta com um bolo da padaria.
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
domingo, 27 de agosto de 2023
O BAR DOS MEUS SONHOS >> Sandra Modesto
Éramos jovens e no último
dia das noites de sextas- feiras, o bar nos chamava. Risadas e embriaguez
naquela turma, às vezes aquietava uma mulher, aquietava o cansaço de uma semana
inteira à espera do encontro. Lá, era bonito. Catávamos esperanças, todas no
mesmo espaço. Lembro-me de um violão, uma professora cantava fado. Um moço
perto dos cinquenta anos. Pedia:
_ Canta Reginaldo Rossi.
O moço gritava...
“Toca Raul”
Eu emendava:
_ Pode ser Chico Buarque?
O garçom, amigo de todas e
todos, servia- nos, cantarolando baixinho:
“Já cansei de escutar
centenas de casos de amor”
Pois então, seu garçom, cadê
o Karaokê? A gente faz um desafio pra testar quem desafina melhor.
Eu só cantava chuva de prata
porque meu tom é agudo. Dizem né?
“Um beijo molhado de luz
sela o nosso amor”
Mas eu sei de cor e canto
com boa entonação, “O bêbado e o equilibrista”. No chuveiro, por causa da
acústica do banheiro.
Ontem, quebrei um silêncio
na sala e disse pra o meu filho:
O Tony Ramos não tem rede
social e Glória Pires não tem Watsapp.
_ O Quê? Mãe! Caiu na
gargalhada.
Gente é banal, eu sei.
Aprendi a quebrar silêncios, para lembrar de bar.
À noite, não pedi ajuda e
abri uma cerveja em lata. Não deu certo porque minha força não foi suficiente,
achei um abridor. E o lacre caiu dentro do copo. E a cerveja estava quente.
Ainda bem que é o último
domingo de agosto. Em setembro, volto com o bar, uns petiscos e muitos sonhos.
domingo, 6 de agosto de 2023
A VENDEDORA >> Sandra Modesto
A
VENDEDORA (26 de junho de 2022)
Tudo
começou em fevereiro quando eu anunciei pelas redes sociais: “Em breve"
Depois:
"Lançamento em abril"
E o
alvoroço se fez. Qual o produto que eu ia lançar? Eu me segurei no limite da
ansiedade.
Recebi
o PDF do livro para revisão, a foto da capa do livro, o miolo do livro. Tudo
era livro. Tudo. Assim como a vida, que às vezes, nos leva a pedir
socorro
Bom, o
"Era Sábado" é um livro de crônicas. Como divulgar o livro sem ele
nas mãos? Eis minhas ideias...
A epígrafe
é o trecho da letra de João e Maria de Chico Buarque e Sivuca. Eu postei uma
imagem da música explicando que a primeira crônica do livro tinha o título da
música.
O
David, da crônica “A Casa de Davi", é o meu vizinho pequerrucho, ele
perdeu o vovô no final de 2020. Chorou pela calçada da minha casa. Abri o
portão, abracei- o bem forte e disse:
“Seu
vovô morreu, mas estará sempre vivo aqui oh, dentro do seu coração."
Vi
muitas meninas na calçada da casa do David. Por vários dias. Vieram
para se despedir do avô. Fui até lá. Conversamos sobre sonhos, sobre o
adolescer. Tiramos uma foto com o sol aberto, a luz estava linda. Divulguei a
foto e contei sobre minha personagem da vida real. Mas cadê o livro?
Chegou dia 2 de maio. 4 de maio, lançamento virtual com o editor. Via Youtube.
O
lançamento presencial foi dia 10. Com filho, marido, muitas professoras e
muitos professores, muitas amigas do meu filho, me prestigiaram comprando o
exemplar.
Um dia
antes, eu fui vacinada com a quarta dose da vacina. Ainda estou vendedora.
Pelo
status do Watsapp, pelo Twitter, pelo story do Instagram. Dos 129 livros, 1 é
meu. 128 livros. Restam 38. Calma, gente. Eu espalhei livros.
Nas
bibliotecas de rua, na biblioteca da fundação cultural do bairro onde eu moro,
na biblioteca municipal, presenteei quem não pode comprar, fiz parcerias, sou a
autora que pariu o terceiro livro. Cuido dele. Porque para ficar vivo na
memória é precioso muito cuidado.
O mais
bacana é receber fotos dos leitores com o livro e suas leituras sobre minhas
crônicas.
E
assim é Era Sábado. Com jeito de gentes.
Por
enquanto, preparando o quarto livro.
“De
novo com a coluna ereta, Juntar os cacos, ir à luta
Manter
o rumo e a cadência
“Esconjurar
a ignorância, que tal”? (Chico Buarque de Holanda e Hamilton de Holanda)
domingo, 11 de junho de 2023
SOBRE UMA VOLTA AO PASSADO >> Sandra Modesto
Sobre
uma volta ao passado.
No
final dos anos setenta, minha mãe ficou preocupada e, conversando com uma amiga
que vira e mexe estava lá em casa, confessou:
“Não
sei o que eu faço com a Sandra, quando ela casar. Ela não sabe nada de dona de
casa. Não sabe cozinha. E nem quer aprender. Fico preocupada.”
O
que minha mãe queria ouvir era uma concordância e uma ajuda. Mas...
“Jacinta,
sua filha é das letras”. Você ainda não entendeu?
Um
sol ameno naquele mês de junho. Naquela tarde as duas amigas tomavam chá de
canela e comiam biscoito frito de polvilho. O centro da mesa forrada com toalha
xadrez, às xícaras esmaltadas, uma moça de 17 anos com mania de ouvir conversa
de adulto às escondidas, ligou o rádio, pegou um caderno e escreveu a primeira
crônica. Sem saber de gênero literário, sabia apenas que a conversa entre a mãe
e dona Luísa, gerou vários pensamentos.
Nos
anos oitenta, a filha da dona Jacinta escolheu o curso de Letras.
Pois
então...
Ao
ver a filha estudando a mãe confessou:
“Filha
estuda mesmo. Para ter uma profissão e não depender de dinheiro de marido.”
A
vida tem lá seus encantos. Nesta tarde
fria, leio um livro, corro até a cozinha e tomo café forte, com pão de queijo,
um bolo de fubá. Quem preparou o café foi meu marido, mãe. Ando muito ocupada.
Porque estou preparando o meu novo livro.
Biblioteca virtual do Elicer Minas
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Uma poesia minha pra recomeçar! No mesmo sol No mesmo sol da manhã surgia a dor quente. No mesmo sol que a dor esquentava o dia cor...
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Crônica de hoje. No meu no seu nos nossos... #Petiscosdedomingo Pai, cadê você? Hoje eu não vou te dar um beijo. Nem um abraço...
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Minha crônica de hoje. Link abaixo: http://www.cronicadodia.com.br/2020/09/arrasta-me-sandra-modesto.html