Quarto turno
Eu soube há
pouco tempo a respeito de um campeonato de ioiô.
Era uma tarde
quase no final, mas o café esfriava, enquanto eu era apenas uma senhora de
pernas pro ar escolhendo um filme para assistir.
De repente uma
num voz de um jovem com mais de 1,90 cm:
“Mãe, você sabe
onde vende ioiô”? Eu preciso muito.
_ Espera aí. Na
lojinha da esquina tem. Chegando à lojinha, que vende tudo, o diálogo:
Moça tem ioiô?
Tem. É bom, né?
Criança gosta. (risos). Se ela soubesse a idade de quem queria...
Na volta pra
casa, já fui avisando.
Eu achei. Vai
comprar.
Ele chegou e, parecia
uma criança com o brinquedo enrolado nos dedos fazendo mil malabarismos. Observei
a cena.
_ Mãe, eu
participava de campeonatos de ioiô quando eu era criança. Venci muitos. Não
lembra? A gente morava no bairro Junqueira, eu brincava na rua, um cara
organizava os campeonatos, a molecada se divertia muito.
_ Não me lembro.
Ah, mãe, é
porque, na época, você trabalhava quatro turnos.
Ele continuou
brincando. Eu olhei para o tempo. Arrebatada com a descoberta do quarto turno.
Sim, eu trabalhava o primeiro turno, o segundo turno, o terceiro turno. O
quarto, bem, esse era o turno quando eu chegava à minha casa, organizava as
tarefas domésticas, verificava tarefas escolares.
Cenários desse trabalho
invisível, não remunerado, que a gente faz.
Por isso,
atualmente, eu tenho a preguiça como uma grande companheira.
Daqui a 5 dias
meus 63 anos vão chegar. Vou abrir a porta com um bolo da padaria.