Sobre
uma volta ao passado.
No
final dos anos setenta, minha mãe ficou preocupada e, conversando com uma amiga
que vira e mexe estava lá em casa, confessou:
“Não
sei o que eu faço com a Sandra, quando ela casar. Ela não sabe nada de dona de
casa. Não sabe cozinha. E nem quer aprender. Fico preocupada.”
O
que minha mãe queria ouvir era uma concordância e uma ajuda. Mas...
“Jacinta,
sua filha é das letras”. Você ainda não entendeu?
Um
sol ameno naquele mês de junho. Naquela tarde as duas amigas tomavam chá de
canela e comiam biscoito frito de polvilho. O centro da mesa forrada com toalha
xadrez, às xícaras esmaltadas, uma moça de 17 anos com mania de ouvir conversa
de adulto às escondidas, ligou o rádio, pegou um caderno e escreveu a primeira
crônica. Sem saber de gênero literário, sabia apenas que a conversa entre a mãe
e dona Luísa, gerou vários pensamentos.
Nos
anos oitenta, a filha da dona Jacinta escolheu o curso de Letras.
Pois
então...
Ao
ver a filha estudando a mãe confessou:
“Filha
estuda mesmo. Para ter uma profissão e não depender de dinheiro de marido.”
A
vida tem lá seus encantos. Nesta tarde
fria, leio um livro, corro até a cozinha e tomo café forte, com pão de queijo,
um bolo de fubá. Quem preparou o café foi meu marido, mãe. Ando muito ocupada.
Porque estou preparando o meu novo livro.
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