quinta-feira, 10 de novembro de 2022

PAI, ESTRAGUEI SUA BANDEIRA >> Sandra Modesto


Podia ter ficado calado, contado e mostrado só pra mãe ou revelar depois, em outro momento, mas, chegou da manifestação, deu de cara com o pai lanchando, todo tranquilo com a mãe, e foi logo dizendo:

- Pai estraguei sua bandeira.

- Ah, não, Gustavo, você não fez isso.

- Fiz pai, mas, foi sem querer, eu colei uma frase com aquela cola forte, pensei que não fosse "tão forte"!

- É depois sai. Com jeitinho pra não rasgar o tecido, calma, senta aí filho, conta:

- Como foi a manifestação?

- A minha bandeira oficial, eu nem acredito, não tenta acobertar o erro dele não, Júlia, ele agiu errado!

- É só mudou a frase, depois se não sair a gente compra outra bandeira, pra tudo se dá um jeito.

- Vocês acham tudo fácil, fácil, dinheiro, então!

- Dá pra brigar depois e ouvir o que o Gustavo tem pra contar sobre a primeira manifestação cidadã, política, de jovem engajado dele, por favor?

Luis se rendeu.

- Tá bom, filho, conta, como é que foi lá? Muita gente?

- Nossa! Muita gente, pai. Organização boa, as reivindicações bem elaboradas, pautas escritas e entregues para o representante do prefeito, pai, ele mandou representante, nem teve coragem de dialogar com a gente pai, é, mas, ele vai ter que levar a sério os nossos pedidos pai, da UFU, da UEMG, da Saúde, o povo tá muito insatisfeito, o atendimento, e os pagamentos dos contratados que não são pagos tem três meses, muita coisa errada, precisando melhorar, pai.

Luis e Júlia se olharam com alegria e orgulho, uma mistura de sentimentos.

Então aquele bebezinho de ontem, já estava virando gente, gente que luta que busca seus direitos e que não abandona o barco.

 "Meu garotão"! Pensou Luis.

Júlia embargou uma voz silenciosa:

“O filho que ensinei a ler, agora, aprendendo lições de Democracia”.

Mais tarde, Gustavo percebeu a porta aberta no quarto dos pais:

- Mãe, eu achei na internet um jeito de tirar cola de tecido, consegui tirar a frase da bandeira, mas rasgou um pouquinho o tecido.

Sorrindo por dentro a mãe disse:

-Ah, tá bom, nem vai dar para notar, filho. Esquece a bandeira, o que você fez hoje, foi muito mais brasileiro.

 

(Baseada em fatos reais e dedicada à turma que participou da manifestação pacífica em Ituiutaba em 2014)

domingo, 6 de novembro de 2022

Água nova brotando e a gente se amando sem parar


 










Depois do dia 30 de outubro, choveu por aqui. O tempo seco que retorcia galhos das árvores frutíferas numa primavera, não deteve nossos sonhos.

Por conta de tudo isso a bola rola para o segundo tempo, e, houve prorrogação.

Sempre aos domingos. Sempre com a esperança, na luta, na pesquisa Datavizinho.

Não existe facilidade. Mas imaginar um sol, uma força pela volta da Democracia, ah, como eu esperei por ela. Foram noites de insônia, manhãs sonolentas e notícias tristes, se eu contar que eu voto no Lula desde 1989, não é ilusão passageira. Eu estou falando sério. Mas estamos em 2022 e a crônica tem que continuar...

Moro numa casa há 13 anos. Vi crescer na família ao lado, duas crianças. Ana e o irmão. À medida que foram crescendo eu me sentia a avó que ainda não sou. Minha pesquisa no primeiro turno foi ao modo “O que será que será?”.

_ E aí, galera como está os votos por aí?

_ Na nossa família tudo é Lula.

Ao ouvir tanta doçura meu marca- passo fez baticum dentro do peito.

Há uma semana por essas horas eu já tinha votado. Preferi não acompanhar a apuração pelo Twitter.

Foi pela TV, bem acompanhada por quem esteve comigo: Marido e filho.

A gente preferiu o amor, a gente se abraçou, a gente gritou: “É Lula Porra”!

Desde então o meu café é forte com é forte o fole da sanfona, as cordas do violão, o toque do pandeiro, a fé na vida e muitos petiscos com queijo ou o que mais cada um quiser comprar. Porque vai!


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