domingo, 26 de junho de 2022

A VENDEDORA >> Sandra Modesto

 

Tudo começou em fevereiro quando eu anunciei pelas redes sociais: “Em breve"

Depois: "Lançamento em abril"

E o alvoroço se fez. Qual o produto que eu ia lançar? Eu me segurei no limite da ansiedade.

Recebi o PDF do livro para revisão, a foto da capa do livro, o miolo do livro. Tudo era livro. Tudo. Assim como a vida, que às vezes, nos leva  a pedir socorro

Bom, o "Era Sábado" é um livro de crônicas. Como divulgar o livro sem ele nas mãos? Eis minhas ideias...

A epígrafe é o trecho da letra de João e Maria de Chico Buarque e Sivuca. Eu postei uma imagem da música explicando que a primeira crônica do livro tinha o título da música.  

O David, da crônica “A Casa de Davi", é o meu vizinho pequerrucho, ele perdeu o vovô  no final de 2020. Chorou pela calçada da minha casa. Abri o portão, abracei- o bem forte e disse:

“Seu vovô morreu, mas estará sempre vivo aqui oh, dentro do seu coração."

Vi muitas meninas na  calçada da casa do David. Por  vários dias. Vieram para se despedir do avô. Fui até lá. Conversamos sobre sonhos, sobre o adolescer. Tiramos uma foto com o sol aberto, a luz estava linda. Divulguei a foto e contei sobre minha personagem da vida real.  Mas cadê o livro? Chegou dia 2 de maio. 4 de maio, lançamento virtual com o editor. Via Youtube.

O lançamento presencial foi dia 10. Com filho, marido, muitas professoras e muitos professores, muitas amigas do meu filho, me prestigiaram comprando o exemplar. 

Um dia antes, eu fui vacinada com a quarta dose da vacina. Ainda estou vendedora. Pelo status do Watsapp, pelo Twitter, pelo story do Instagram. Dos 129 livros, 1 é meu. 128 livros. Restam 38. Calma, gente. Eu espalhei livros.

Nas bibliotecas de rua, na biblioteca da fundação cultural do bairro onde eu moro, na biblioteca municipal, presenteei quem não pode comprar, fiz parcerias, sou a autora que pariu o terceiro livro. Cuido dele. Porque um bebê precisa de muito cuidado.

O mais bacana é receber fotos dos leitores com o livro e suas leituras sobre minhas crônicas.

E assim é Era Sábado. Com jeito de gentes. 

Por enquanto, preparando o segundo lançamento presencial. Que tal?

“De novo com a coluna ereta

Juntar os cacos, ir à luta

Manter o rumo e a cadência

“Esconjurar a ignorância, que tal”? (Chico Buarque de Holanda e Hamilton de Holanda)

 

A PROSA E O POEMA >> Sandra Modesto

 

O que é prosa? O caderno caiu no chão da cozinha. Ela teve preguiça diante da cena por tanto amor. Que agora, esfria e acende. Rima e se faz num sábado.

Pegou o ônibus no espaço de sempre.

Acenou pra o motorista. Há trinta anos o percurso contínuo, olhos e ouvidos atentos às conversas. Renderiam crônicas. Encontros. 

Queria uma prosa boa, uma história quente, não sabia na verdade, se queria uma trepada ou sexo com amor. Ah, naqueles tempos em que nada impedia uma paixão que fervia por todos os poros, no carro, no canto do amanhecer, a gente tinha, 20, 30 anos. Aos sessenta anos... Bem, depois disso, no colchão macio é uma boa pedida.

Prosa é a conversa de todos os dias. É o abraço no cotidiano. Um livro de crônicas requer um olhar apurado, ao mesmo tempo, é um gênero merecedor de prêmios. Por isso, eu adquiri vários títulos clássicos e contemporâneos escritos por mulheres.

O cantor Gilberto Gil disse um dia desses: “É preciso acabar com essa história de achar que a cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária!”.

Escrevendo este texto ouvindo Drão perguntei:

“Cadê aquele seu poema?” (Sim, foi uma mensagem no Watsapp.).

Qual poema? Tem mais de um? Tenho.

Onde estão?

Não sei.

Eu me lembro de uma pasta que eu fiz no computador, pra ele. Procurei.

 “Entre minhas mãos tu escapas como se não existisse amor
Sob a retina de meus olhos vejo-te dobrar a esquina
Não sei se voltarás de um deserto ou de um oceano.
Se ainda frágil ou mais madura.
Ao som dos meus quase risos quase lágrimas
Ouço teus passos todas às vezes mais silenciosos
Não sei se te ouvirei, meio a melodia dos teus beijos
tua boca a dizer "Te amo".
Amar é assim um desassossego”.

Lahus

Pra quem ele escreveu, eu não sei. Mas é foda!

 

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