domingo, 3 de outubro de 2021

SOB UM SOL DE NEBLINA>>> Sandra Modesto


 





Acordei mergulhada em lembranças da casa onde vivi.  Resolvo visitar a antiga morada. Por muito tempo eu fui menina, em pouco tempo eu cresci. Por longos instantes densos, frívolos e fortes, permaneci intacta. Tanto tempo que eu nem sei encantar. Entrei aos treze e deixei aos trinta. Minha casa feita de sonhos, de esconderijos. Silêncios e vazios ocultos. Quais são os espaços estranhos e nem assim, em vão, fizeram meu coração dilacerar e correr para casa da avenida vinte e sete?

 Em busca dos restos eu caminhei por algumas horas, vagarosa com jeito entre a curva do meu corpo sem juventude. Esperei avistar uma moradia antiga. Mas houve desesperança. Sabe minha casa? Não tem mais cores fortes na entrada, nem rede, aumentaram a construção. Quando observei um cômodo pequeno onde meu pai recebia as pessoas velhas necessitadas em busca do caminho da aposentadoria, onde a gente colocava uma garrafa de café, biscoitos fritos e pão de queijo quentinho...

Ah, o velho aconchego virou um escritório Estranho, sem vida, portas fechadas e sem harmonia.

Uma chuva ameaçou meu passeio ao passado. Veio-me à memória aquela menina medrosa, minha mãe dizendo que se o sol se fecha, os respingos choram na terra. Por isso que eu sempre gostei de luz natural. Eu sou solar. Rasgada de amor por histórias do amanhecer. Se a noite chega eu me fecho e a insônia ameaça. Mas adormeço em presságios e aponto uma sutil alegria ao acordar. 

Entendo que a casa do passado está apenas nos meus álbuns de fotos antigas.

Abracei minha vida do agora. Numa cidade onde passa um rio, um povo esperançado, sem muitas oportunidades, ás vezes escorregando lá, de repente, sorrindo ali.

Aqui eu quero morrer.

Mas sem neblinas.

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