A menina
e a mãe da menina
Vejo minha filha
quentinha dentro de mim
Sinto minha filha
quietinha dentro de mim
Vejo uma barriga
cansada carregando minha filha
Sinto uma hora chegando
num dia no meio da tarde
Num calor de janeiro
É hora de uma barriga explodir
Não vejo mais uma bola
redonda
Em redondilha maior
O choro da minha filha
Cruzando os olhos em
mim
Cravando meus tenores
Temores da minha
primeira vez
“Eu acordei mãe”
E foram tantos os
caminhos
Descobertas
Culpas
Lutas
Conquisto o mundo com
minha filha gritando dentro de mim
Percebi que fui mãe
assim
Meus peitos num leite
jorrado
Leite seco
No preparo das
mamadeiras
No meu choro escondido
Sinto minha filha
correndo pra mim
Olho o mundo com olhos
arregalados
Intuição misturada
Cortaram minha barriga
e um cordão
Decoro o aflito berço
em suaves prestações
Carrego minha filha em
meus braços
Não programei o nascer
da minha filha no mesmo dia que o meu
Agora e sempre e hoje
Minha filha é o amor
ecoado
Nesse verão de um acaso
Nesse amor bagunçado
Eu e minha filha
Minha filha e eu
37 anos
59 anos
Do nosso 26.