terça-feira, 6 de junho de 2017

Dia delas. As Crônicas.


Diálogo vencido
Eu:
- Gabriel!
- Fala mãe.
- A bicicleta da Jéssica, sua amiga, tem marchas, né?
- Tem.
- Você me ensina a andar?
- Oi? Mãe sabe quando a gente aprende a andar de bicicleta?
Completou:
- Quando a gente é criança, o pai, a mãe, a tia, o padrinho, leva pra praça, a gente cai, rala o joelho...
- Mas eu aprendo.
- Como? Você vai andar aonde?
- Aqui, na varanda, depois na calçada, depois na rua. Eu consigo.
- Sei, e o trânsito? Você toma remédios, tem epilepsia, marca passo, tem uma crise, e aí?
- É. Tá certo.
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Epitáfio 2. A conversa
- Pai?
- Pai?
- Tudo bem. Eu conto.
- Eu estou digitando. No aplicativo.
É pai, ah, depois te explico.
Se você estivesse aqui, haveria uma festa, hein? Setenta e sete anos.
Mas, você foi embora. Com apenas cinquenta e sete. Nunca me esquecerei de sua habilidade em descascar laranjas. Dava-me bronca porque eu feria as laranjas. Caraca, você enchia uma lavadeira e as cascas saíam inteiras. E de uma cortada só. Dava gosto ver.
Pois é. Eu até hoje não domino essa arte. Na cozinha eu sou um desastre e você tinha razão.
Não aguento ser dona de casa. Lavar louça então. Coisas do coração.
Mas, tem uma galera que me ama, uns mimos, sabe?
Você entende.
Ih, minha caligrafia continua horrorosa.
Ainda bem que eu só tenho cadernos pra prevenir eventuais casos. Mas, ninguém entende minha letra. Nem eu. Heheh!
Olha, não esquenta, corretor é incorreto. Doido.
Lembra quando você me perguntava alguma palavra pra que eu respondesse o significado?
Ai, ai, com medo de errar, eu pegava meus livros de português, dicionário, um tempo corrido. Ainda bem que agora tem o Google.
Não, pai, não é gol. É uma pesquisa online.
Por falar em gol, nosso Vasco não está bom não.
Fica triste não. Nosso time não é o problema.
Se tem mais?
Muito. O país anda esquisito.
Não, pai, no meu nariz não entrou um mosquito.
Haha, lá vem você com esse humor imortal.
Por aqui, a gente ama internet.
Chiclete? Não, internet. Ah, esquece.
Penso que seu aniversário hoje, teria um bolo enorme.
Eu? Escreveria um haicai pra você.
Talvez / um livro/ novo/ pra te contar/ um dia/
A gente/ vai/ se encontrar.
Por enquanto, é assim. Eu incompleta. Não estou reclamando. Vou amando o que posso.
Vou vivendo. Meio agitada. Outras vezes cansada.
Agora, chega. A tela do meu celular está molhada.
Sandra Modesto.

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