#Petiscos de domingo.
Neste domingo com inverno chegando...
Vamos saborear uma história quente?
Rapidinha...
DOIS PONTOS
Sandra Modesto.
Marcos leva Gabriel pra o banheiro e os dois brincam.
O pai, de ser criança, o filho, de ser gente grande. Gabriel tinha quatro anos
e já queria tomar banho sozinho. Marcos ensinava ao filho, brincadeiras como:
Fazer bolhas de sabão, fingir que lavou os cabelos, deixar o corpo inteiro
falar sozinho que em breve, transformações aconteceriam.
Gabriel e Marcos; A dupla do "barulho".
E, mais um
banho escorrendo infância, vida, risos a fora.
Ana chega pra dar bronca.
- Meninos! Pare de bagunça, o jantar já está servido.
Os meninos obedeciam... Meia hora depois da ordem.
- Oi, amor! Que saudades! Como foi seu dia?
- Cansativo, porém produtivo. Fechamos mais um
contrato. A agência está crescendo. Feito o amor que sinto por você. Cada dia
te amo mais, sabia?
Jantar a três, três amores. Um estilo de vida moderno,
nos dias atuais, é comum a mulher se dedicar ao mercado de trabalho e o marido
cuidar da rotina da casa. Os novos casamentos não seguem modelos pré-
estabelecidos por convenções sociais.
Na manhã seguinte, Marcos e Ana acordavam juntos se
beijando como se fosse à primeira vez.
Ele preparava o café, opinava sobre a roupa e o cabelo
da publicitária que ele mais admirava no mercado.
Mercado? Era com ele. Uma lista bem feita e as compras
eram certeiras. Tudo que cada um gostava de comer. E mais! Produtos para manter
a casa em ordem, limpa e cheirosa, enfim, "um marido enviado por
Deus"! (Ana dizia sempre para amigos e familiares).
Gabriel estudava em uma boa escola, já fazia natação,
no próximo ano? Aprender Inglês. A agenda já ia aumentar.
Um dia o pai sentiu falta de voltar ao trabalho.
Pensou que o sentimento demoraria mais a chegar, mas, chegou. Um telefonema deu
um empurrãozinho à reativação do sonho. Uma empresa do setor de engenharia e arquitetura
contribuiu para o concreto. Marcos havia espalhado currículos a uma enorme
lista de contatos eletrônicos. O dia chegou. Sim!
Entrevistas, exames, tudo certo. Recomeço.
Ana precisou contratar uma faxineira e uma babá.
Gabriel estranhou um pouco, porém logo se adaptou. Criança é bem adulta em
algumas ocasiões. Não fazem bicho de sete cabeças das novas realidades.
O casal passou a viver um amor maduro, consciente,
forte, "tudo tem seus momentos certos". Marcos confessou á amada.
Amante. "Ficante". Estonteante...
Certa noite, Marcos estava sozinho na varanda, apreciando
a despedida do sol e deparando-se com o brilho da lua que mesmo um pouco
tímido, anunciava que estava pronta.
Os pensamentos agitavam as memórias do observador.
Fugir?Ele ousou enfrentá-las.
Há doze anos Marcos não era de Ana:
No ponto
do
ônibus, Carolina esperava pra ir pra
casa, depois de
um
longo e cansativo dia de trabalho.
Ela estava ali novamente... Igual a tanta gente.
Muitos caminhos, e tantos
desejos de um jantar
quentinho.
Beijinho carinhoso do filho, beijo de língua do marido.
Aflito Marcos não via a hora de Carolina chegar.
Quando ela apontava na esquina abaixo, ele já sentia o seu cheiro de jasmim,
imaginava dando- lhe carinhos: Beijo no roçar
da
nuca, mordidas ao pé
da
orelha, apertos pra vibrar
a emoção contida, despida de todas as emoções
presas.
A pressa daquela noite estava diferente, maior e mais
quente. O outono estava terminando. E Carolina, quase chegando.
Marquinhos de dois aninhos, de banho tomado, com cabelos limpinhos
lavados com o xampu que Carolina pedia sempre
pra
comprar. O papai Marcos era
muito apaixonado pela rotina da família. Sabia agradar Carolina.
A mesa estava perfeita. Arroz branquinho, feijão vermelhinho, bife acebolado, saladinha, abobrinha com jiló. E só: O banquete estava feito. Os dois sempre
davam um jeito de transformar
o simples em luxo! Ou, valorizar
o luxo nas coisas simples que a vida oferecia.
Já passava das onze horas, Marquinhos adormecera,
Marcos não sentiu o cheiro de Carolina, beijos sem fim, que os dois trocariam. Alguém bate à porta.
Marcos corre para dizer
a ela da preocupação. Coloca a comida pra esquentar num piscar
de
olhos.
Abre o coração pra receber
Carolina. Mas, ela não veio. Não era
Carolina.
Pelo menos, não do jeito que Marcos sempre quis.
Era alguém, Marcos não conhecia. Apenas ouviu algumas palavras que jamais esquecera;
- Senhor
Marcos Santos? Só falta um corpo pra
ser reconhecido. Segundo testemunhas, é o de sua mulher.
- Não, Carolina, não!
Sem Carol,
Marcos teve que se armar
em forças, dar
amor
pra Marquinhos, trabalhar
sem parar
para pagar a creche, comprar
de
tudo, viver sozinho.
Até Marquinhos deixou o pai. Uma grave doença e ele
foi ao encontro da mãe... "Muitas vezes
reunimos forças para que continuemos". Ou então... Superações?
- Pode ser.
Ao final:
Novos personagens. Não era Carol.
Não era Marquinhos.
Era apenas a vida, possibilitando surpresas. Quimeras.
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