domingo, 29 de dezembro de 2024

Naquela mesa >> Sandra Modesto

 Naquela mesa

Os dezembros não são os mesmos desde a Pandemia. No dia 31 de dezembro do ano estarrecido, corroído no vazio de muitas famílias, como cantar em coro, adeus ano velho feliz ano novo?

O ano velho levou para sempre, os que  não estarão na última festa.

Dá pra dizer feliz ano novo olhando a mesa incompleta? Cadeiras vazias, olhares disfarçados tentando os risos fracos. Porque a vovó não está ali, o avô, as tias, os tios, a amiga, o amigo.

A professora que contou histórias, as conversas marcantes, agora distantes demais.

Elas e eles viraram covas. Nas setecentas mil vidas perdidas, seria espanto, reforçar que quatrocentos mil pessoas poderiam estar vivas? Por isso meu bem, no último dia de todos os anos, recolha sua dor, não ignore a miséria do Brasil de 2019/2022. Saboreie devagar ao comer pedaços de lombo assado, lembre- se que durante o governo do inelegível, pessoas enfrentaram a fila do osso. Cataram comida no lixo.

E se puder, assuma sua estranha paixão pela vida.

Naquela mesa incompleta. O forro branco escorrendo pelos cantos.

O feliz ano novo será meio assim, implacável na canção destoada. Feliz ano novo?

Não. Cada um vai chorar em silêncio

E recolher as sobras das saudades.

NAQUELA ESTAÇÃO>> Sandra Modesto

  Naquela estação Eu tinha 15 anos e uma noite perdida no tempo. Era inverno, era uma festa de despedida na escola. Quase todos me notaram e...