De tarde o barulho se aquieta. Depois das cinco e meia, que é quando a empreitada entoa a canção da despedida.
Amanhã
começa tudo de novo, mas pode ser com outros acordes. Porque o som da
britadeira, dos operários passando a pá de cal com força pelo patamar. Raspando
as mãos como se fossem quadros de arte, respingando tintas pela janela do meu
quarto, zonzo e inocente. Eu sentei mirando naquele espetáculo bêbado os cacos
de telha voando na minha cama.
Quisera
eu soubesse quanto tempo duraria a eternidade.
Nessa
garupa desse veículo chamado vida.
Antes
dessa história, antes desses dias. Mas deixa eu contar o início...
Moramos
numa casa há treze anos. Uma pré-adolescência afinal, envolta em planos de
marcar as linhas do coração. Como se a morada fosse o corpo da gente. Que fala,
ouve, canta, lê e silencia.
Barulheira
agitando meu cérebro, escuridão em três quartos e banheiros. Luzes acesas por
que o sol fugiu, esmagando o brilho devorado em quase duas estações.
A
gente teve uma conversa e a possibilidade de procurar outro canto pra viver
entrou no jogo. Mas ainda tinha sol no quintal imenso, o Chico Buarque Modesto
brilhava e se encantava. No jardim, também.
Foi
quando afinamos a voz em um último som decisivo: “Vamos ficar por enquanto”.
A
paixão pela casa. Como se fosse única.
E
isso me possibilitou a ideia de conversar com os pedreiros. São eles que constroem
tijolo por tijolo num desenho mágico.