Vitória
tinha dezessete anos e era o tempo em rascunho. A adolescente morava com o pai
desde os quatro anos de idade. Antônio era pedreiro e educava a filha bordando
o enigma do jeito que a vida o ensinava. Nunca escondeu debaixo do tapete a
verdade sobre a separação.
Vitória e
o pai moravam num barraco desde que a mãe optou em não terminar de criar a
filha. Vilma foi embora com o novo amor. Preferiu assim.
Trabalhando
de pedreiro, o dinheiro mensal apertava aqui e ali.
Na casa
simples, Antônio e Vitória inventavam um castelo.
Numa
quinta – feira algo puxou o costumeiro diálogo.
_ Que tristeza é essa no olhar?
Eu te conheço...
- Nada. Deixa pra lá.
Sim.
Tanta coisa que nem a garota consegue explicar.
À noite
eles mal se viam. Um corre-corre daqueles. Vitória ia do trabalho para a escola
e chegava tarde. Nunca sem tempo de ganhar um jantarzinho caprichado.
Antes de dormir, uma conversa
rápida seguida de um beijo de boa noite...
_ Bom dia pai!
_ Bom dia. Que animação é essa?
_ Pai, se liga. Depois do trampo,
escola e balada! Hoje é sexta – feira. Eu tomo cuidado pai. Vai ser na casa da
Maria. Já pensamos em tudo. A casa da Maria é meio pequena, mas retirando uns
móveis, dá pra gente dançar.
O pai seguiu para o trabalho.
Meio preocupado. Havia algo que não dava liga no coração do pai de
adolescente...
Colocando
os tijolos na casa que estava construindo, sem perceber, Antônio voltou os
pensamentos para a filha. Lembrou – se dos treze anos criando a filha. Sozinho
com uma menina para dar conta de educar.
_
E agora? Pensava o pai. O que Vitória sentia? Será que tinha acontecido um
momento desses. Desses... É, será que a filha ainda era virgem? Vitória não deveria ser diferente das outras
meninas que tinham dezessete anos. Antônio esperou pela filha. Dormiu tomado
pelo cansaço... Num canto de uma rua, Vitória foi silenciada por um
desconhecido. _ Vem gostosa. Vem! ... Na
casa de Vitória, uma omelete esfriou. Ela chegou. Chorou lavando o corpo e os sonhos perdidos.