A
porta não estava fechada quando eu me aproximei do meu filho pra dar boa noite.
O edredom embolado. Mas os cachos dos cabelos eu beijei.
Quando
amanhece sempre depois das dez, me enterneço com o interrogatório da filha que
mora em outra cidade.
_
Mãe, tudo bem?
_
Mãe, que dia você vai vacinar? Já sabe?
Respondo
tudo.
Eu
chorei ardido com o sal envolto no adeus a minha mãe
Ela
não viu muitos netos virando marmanjos
Não
abraçou as largas vitórias e derrotas das netas. Não riu com a bisneta.
Eu
perdi os embaraços possíveis e suaves e neuróticos dos capítulos nesse espaço
dos vinte e três anos sem minha mãe.
Não
sei quem é Deus. Uma imagem, uma força, um guia? Um guru?
Penso
que ele é um amanhã. Uma brusca tarde no
meio da minha busca grotesca.
Já
me disseram que Deus é pai. Os deuses de muitas gentes. Cada pessoa tem um.
O
meu é o embate invisível me socorrendo ao saber das perdas de tantas mães
perdendo suas crias.
No
acalanto busco o manto pra o meu filho e volto a beijar os cachos. Acordo
buscando fotos da minha filha. O tempo é manso.
Muitas vezes entendo o humor no amor. Nesse
vai e vem de uma mãe imperfeita.
_
Mãe, tudo bem?
_
Tudo bem filha. Como está seu domingo?
meu
filho acorda querendo uma torta de pão de forma sem frango desfiado.
_
Você não acha melhor um deliver?
_
Mãe!
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