segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DOMINGO >> Sandra Modesto

 O dia parecia um convite ao amor.

Era “domingo”. O domingo de Clarissa. O dia dela e de João.

Clarissa gostava muito de João. Do abraço apertado de João, do beijo louco!

Um amor nutrindo – os vigorosos que fazia- os chorar de dar risadas.

Por causa dele, os detalhes extasiariam o domingo. E isto estava bem estampado em olhares, sensações, vibrações.

Os domingos esperados sempre ficavam distantes de um dia normal, casual, certeiro.  Ah! João e Clarissa viveriam o imaginado. Sonhado por eles desde que se conheceram. Clarissa sentia que o simples querer em ver João. Era um querer. Um baita querer.  

Foi então, que se olhou no espelho. E percebeu...

“Deslumbrante” Disse Clarissa à sua própria imagem.  O vestido azul de domingo,

(Azul, dum azul do céu, do lápis de cor) feito à mão, destacando-lhe os seios empinados. O resto só João podia tão bem descrever!

Nos cabelos escuros, Clarissa prendia um rabo de cavalo só para João desprender, para antes de desprender roçar - lhe a nuca e enfiar os dedos longos suavemente e despenteá-los. Em frações de segundos os dois estavam hipnotizados. Do jeito deles. Criando um ninho peculiar, uma mistura de amor e motivos de segredos.

É que na verdade, só de pensar o domingo sem João, Clarissa perdia o enredo escrito de um dia encantado, os momentos silenciosos nos olhares, o avançar da pretensão do amor.

Tudo ficou tão mais bonito quando João apontou na rua. Clarissa ficou ansiosa. Uma

Ansiedade desenhada em cores e paixão. O coração marcado por devaneios...

Naquele domingo, como de costume, João almoça na casa da amada. E no findar da tarde...

A família reunida envolvida com a rotina do domingo, já tinha contado piada, tomado cerveja, ido à igreja. Clarissa e João saem para um passeio...

No caminho; Um afago, beijos, pele, almas.

João conta seus planos; Um casamento eterno. Seu sonho maior: Ter filhos parecidos com Clarissa.

No quadro vivo do passeio, o verão insistia em fazer parte.

Chegam a um lugar de muito verde.

Unindo-se ao verde, um rio com uma água muito cristalina.

De repente, uma chuva... A água morna do tempo quente coloca à mostra o vestido grudado ao corpo de Clarissa. João a abraçou com ternura e vontade. E os dois, se amam no domingo. Ali, debaixo da chuva. A história aconteceu nos anos setenta.  Clarissa não existe mais. Foi tragada pelo tempo. João perdeu – se no rabisco qualquer.


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