domingo, 27 de agosto de 2023

O BAR DOS MEUS SONHOS >> Sandra Modesto


 










Éramos jovens e no último dia das noites de sextas- feiras, o bar nos chamava. Risadas e embriaguez naquela turma, às vezes aquietava uma mulher, aquietava o cansaço de uma semana inteira à espera do encontro. Lá, era bonito. Catávamos esperanças, todas no mesmo espaço. Lembro-me de um violão, uma professora cantava fado. Um moço perto dos cinquenta anos. Pedia:

­_ Canta Reginaldo Rossi.

O moço gritava...

“Toca Raul”

Eu emendava:

_ Pode ser Chico Buarque?

O garçom, amigo de todas e todos, servia- nos, cantarolando baixinho:

“Já cansei de escutar centenas de casos de amor”

Pois então, seu garçom, cadê o Karaokê? A gente faz um desafio pra testar quem desafina melhor.

Eu só cantava chuva de prata porque meu tom é agudo.  Dizem né?

“Um beijo molhado de luz sela o nosso amor”

Mas eu sei de cor e canto com boa entonação, “O bêbado e o equilibrista”. No chuveiro, por causa da acústica do banheiro.

Ontem, quebrei um silêncio na sala e disse pra o meu filho:

O Tony Ramos não tem rede social e Glória Pires não tem Watsapp.

_ O Quê? Mãe! Caiu na gargalhada.

Gente é banal, eu sei. Aprendi a quebrar silêncios, para lembrar de bar.

À noite, não pedi ajuda e abri uma cerveja em lata. Não deu certo porque minha força não foi suficiente, achei um abridor. E o lacre caiu dentro do copo. E a cerveja estava quente.

Ainda bem que é o último domingo de agosto. Em setembro, volto com o bar, uns petiscos e muitos sonhos.


domingo, 6 de agosto de 2023

A VENDEDORA >> Sandra Modesto


 










A VENDEDORA (26 de junho de 2022)

Tudo começou em fevereiro quando eu anunciei pelas redes sociais: “Em breve"

Depois: "Lançamento em abril"

E o alvoroço se fez. Qual o produto que eu ia lançar? Eu me segurei no limite da ansiedade.

Recebi o PDF do livro para revisão, a foto da capa do livro, o miolo do livro. Tudo era livro. Tudo. Assim como a vida, que às vezes, nos leva  a pedir socorro

Bom, o "Era Sábado" é um livro de crônicas. Como divulgar o livro sem ele nas mãos? Eis minhas ideias...

A epígrafe é o trecho da letra de João e Maria de Chico Buarque e Sivuca. Eu postei uma imagem da música explicando que a primeira crônica do livro tinha o título da música.  

O David, da crônica “A Casa de Davi", é o meu vizinho pequerrucho, ele perdeu o vovô  no final de 2020. Chorou pela calçada da minha casa. Abri o portão, abracei- o bem forte e disse:

“Seu vovô morreu, mas estará sempre vivo aqui oh, dentro do seu coração."

Vi muitas meninas na  calçada da casa do David. Por  vários dias. Vieram para se despedir do avô. Fui até lá. Conversamos sobre sonhos, sobre o adolescer. Tiramos uma foto com o sol aberto, a luz estava linda. Divulguei a foto e contei sobre minha personagem da vida real.  Mas cadê o livro? Chegou dia 2 de maio. 4 de maio, lançamento virtual com o editor. Via Youtube.

O lançamento presencial foi dia 10. Com filho, marido, muitas professoras e muitos professores, muitas amigas do meu filho, me prestigiaram comprando o exemplar. 

Um dia antes, eu fui vacinada com a quarta dose da vacina. Ainda estou vendedora.

Pelo status do Watsapp, pelo Twitter, pelo story do Instagram. Dos 129 livros, 1 é meu. 128 livros. Restam 38. Calma, gente. Eu espalhei livros.

Nas bibliotecas de rua, na biblioteca da fundação cultural do bairro onde eu moro, na biblioteca municipal, presenteei quem não pode comprar, fiz parcerias, sou a autora que pariu o terceiro livro. Cuido dele. Porque para ficar vivo na memória é precioso muito cuidado.

O mais bacana é receber fotos dos leitores com o livro e suas leituras sobre minhas crônicas.

E assim é Era Sábado. Com jeito de gentes. 

Por enquanto, preparando o quarto livro.

“De novo com a coluna ereta, Juntar os cacos, ir à luta

Manter o rumo e a cadência

“Esconjurar a ignorância, que tal”? (Chico Buarque de Holanda e Hamilton de Holanda)

 


Biblioteca virtual do Elicer Minas

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