Éramos jovens e no último
dia das noites de sextas- feiras, o bar nos chamava. Risadas e embriaguez
naquela turma, às vezes aquietava uma mulher, aquietava o cansaço de uma semana
inteira à espera do encontro. Lá, era bonito. Catávamos esperanças, todas no
mesmo espaço. Lembro-me de um violão, uma professora cantava fado. Um moço
perto dos cinquenta anos. Pedia:
_ Canta Reginaldo Rossi.
O moço gritava...
“Toca Raul”
Eu emendava:
_ Pode ser Chico Buarque?
O garçom, amigo de todas e
todos, servia- nos, cantarolando baixinho:
“Já cansei de escutar
centenas de casos de amor”
Pois então, seu garçom, cadê
o Karaokê? A gente faz um desafio pra testar quem desafina melhor.
Eu só cantava chuva de prata
porque meu tom é agudo. Dizem né?
“Um beijo molhado de luz
sela o nosso amor”
Mas eu sei de cor e canto
com boa entonação, “O bêbado e o equilibrista”. No chuveiro, por causa da
acústica do banheiro.
Ontem, quebrei um silêncio
na sala e disse pra o meu filho:
O Tony Ramos não tem rede
social e Glória Pires não tem Watsapp.
_ O Quê? Mãe! Caiu na
gargalhada.
Gente é banal, eu sei.
Aprendi a quebrar silêncios, para lembrar de bar.
À noite, não pedi ajuda e
abri uma cerveja em lata. Não deu certo porque minha força não foi suficiente,
achei um abridor. E o lacre caiu dentro do copo. E a cerveja estava quente.
Ainda bem que é o último
domingo de agosto. Em setembro, volto com o bar, uns petiscos e muitos sonhos.